DIA 16 DE NOVEMBRO ESTIVERAM PRESENTES NA CÂMARA DOS VEREADORES DA CIDADE DE SÃO PAULO MAIS DE OITENTA PROFSSIONAIS DA DANÇA EXIGINDO A AMPLIAÇÃO DE RECURSOS PARA O PROGRAMA DE FOMENTO À DANÇA, TRANSPARÊNCIA NA UTILIZAÇÃO DE RECURSOS E AMPLIAÇÃO DOS PROGRAMAS DE DANÇA A FIM DE ATENDER A DEMANDA EXISTENTE NA CIDADE.
MOMENTO DE FESTEJAR MAIS UMA VEZ A MOBILIZAÇÃO DA DANÇA PAULISTANA !
MOMENTO TAMBÉM DE ESTARMOS ATENTOS !
ESTAMOS EM FASE DE VOTAÇÃO DO ORÇAMENTO PARA 2012. O MOMENTO É ESSE. A HORA É AGORA ! NOVAS MOBILIZAÇÕES VEM PELA FRENTE ! PARTICIPE !

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04 outubro 2010

Ter ou Não Ter Público ? Eis a questão. (2)

Caros amigos, inauguro aqui a possibilidade de alguns comentários serem transformados em postagens. Penso que com isso, ampliamos a discussão e a participação. Segue abaixo o comentário de Wagner Schwartz, um novo e precioso amigo conquistado por meio deste blog.

"Querida Solange e amigos do Pensar a dança além dos editais

Gosto muito de acompanhar as discussões propostas pelo site, por que os textos que você publica, Solange, estão sempre cheio de perguntas permitindo comentários que dobram e desdobram as primeiras perguntas, deixando-as mais reduzidas, mais perto daquilo que queremos incorporar. Querendo, talvez, dizer: eu não posso pensar sozinha; quero dividir inquietações. E acredito que a gente só consiga revisitá-las a partir desse encontro, em que podemos repensar cada uma das perguntas e, o mais importante, propor saídas, para que as questões não sejam abandonadas.
O “deixa pra lá” é um assunto clássico e monocórdio em nossa (e, talvez, em outra(s)) cultura(s). Ele é uma forma muito cruel de censura, mas garante muitas coisas. Inclusive a segurança dentro de um sistema aparentemente infalível pelos seus acordos, cheios de contradição, que alimenta os subtextos de coisas que ao invés de serem ditas direta e francamente, obrigam a gente a tentar entender as falas nos seus silêncios e jogos de palavras.
Então, vejo que estamos aqui, nesse blog, juntando forças para falar e repensar a nossa própria fala. Numa atitude de resgatar a voz das pequenas tribos que se formaram dentro de uma ilha que pode parecer deserta, mas não é. A classe artística da dança contemporânea no Brasil é pequena e espalhada. Queremos conseguir viver fora desse constrangimento social tão grande que escorreu pelas bordas (e que, acredito, o tenhamos adotado). Estamos procurando formas, nesse momento, em conjunto, dentro da diversidade que em nenhum momento nos empobrece, para problematizar o “curto-circuito das representações”. Esse não seria já um grande avanço? Estamos fazendo novos amigos.
Vou tentar dar minha contribuição aqui, em primeira pessoa, partindo da primeira ideia que você lança ao ar a partir do post "ter ou não ter público?".
Público, em qualquer caso, pode ser definido enquanto um conjunto de espectadores. E, no caso de um trabalho artístico, se o local destinado para a sua apresentação não está completamente vazio, o público existe. Acho que pensar na sustentabilidade da dança, partindo da análise do público, seria muito difícil; simplesmente porque não existe um tipo de dança, mas vários. Existem danças feitas para serem apresentadas em grandes palcos, para grandes públicos e outras que só cabem em um cômodo, para uma pessoa, e outras que..., e outras que... (ad infinitum).
Enquanto artista ou sujeito, sempre faço uma seleção de obras para assistir que vão potencializar meu ambiente, quero dizer, as coisas que estou estudando, as coisas que me dão prazer. É muito difícil para mim sair de casa para assistir algo que eu não goste na área da dança, porque eu não faço isso, também, nas outras áreas: eu não ouço músicas que não façam sentido pra mim, não vejo filmes blockbusters ou com violência que beiram a vulgaridade, não leio literatura tipo best-sellers, nem tenho predileção pelo romance, enfim, quero dizer com esses poucos exemplos, que cada um vive da forma que quer, não é mesmo? Essa é uma das alternativas para se pensar no desenvolvimento cultural, particular ou de muitos. Viver dentro da sociedade da culpa ou da moralidade faz parte de uma das demandas históricas que foram, aos poucos, sendo eliminadas da vida das pessoas, ao custo de muitas revoluções. Então, voltando ao assunto, não acredito que grandes públicos legitimariam grandes obras (isso é um modelo muito perigoso de se pensar as leis e, nesse momento, na França, Sarkosy o adota para determinar a falência dos grupos de pesquisa em qualquer segmento artístico). A gente não tem isso como lei. Então podemos viver a democracia. Vivemos em um país privilegiado.
A gente vai à escola para compreender o outro, mas a gente não se parece. A gente tem o mesmo contrato: a vida, mas podemos pensá-la diferente. Essa é a chance para exercermos nossa criatividade. Então, não dá para analisar o trabalho de um artista, também, somente a partir do nosso ponto de vista. Caso sejamos um público curioso, podemos nos aproximar do que o outro quer nos dizer através de perguntas, leituras mais elaboradas da vida do autor, etc, etc, mas se somos um público mais acomodado, podemos também sair do espetáculo que vimos e nos queixar, ou ainda, o trabalho que vimos não está pronto, precisa de mais tempo para ser terminado e, então, ficamos mesmo com cara-de-interrogação. Mas não deixaremos de ser público ou artista em qualquer um desses ou outros casos. Enfim, existem N possibilidades de interpretação daquilo que vimos e nossas reações sempre dependem da disposição e análise daquilo que estamos experienciando (ad infinitum).
Outra coisa, "a relação da obra com o público" que você cita, depende, também, de onde ela se dá, de quando ela acontece. Eu tenho dúvida se criamos uma obra especificamente para O público. Nem sei se esse grupo de pessoas tem assim tanta disponibilidade para sempre estar NOS ouvindo! Nem, ainda, se essa massa tem apenas uma forma, uma cabeça, uma chance de entender, comunicar, complexificar aquilo que experiencia. Então fica difícil pensar em O Público para se criar qualquer coisa, simplesmente, porque ele não existe.
Acho que precisamos é, ainda, de mais diversidade. Mais espetáculos com ou sem teorias e teoremas, como você diz, que te incluam ou excluam; mas, definitivamente, precisamos de espaço para exercitar o pensamento. Precisamos de leis que protejam um grupo-absolutamente-diferente-de-artistas que querem trabalhar e só isso.
Eu não acredito que é dizendo se o que o outro faz é bom ou ruim, ou que ainda precisa ser modificado, é que vamos construir um espaço plural, multi-facetado, que nos permita ter o prazer de fazer escolhas.
Estou sendo utópico? Não sei. Só me recuso a ser fatalista.
Deixo vocês, ainda, com um presente que recebi recentemente de uma amiga através de um post em seu blog.
Boa leitura.
Com carinho,
W.
wagnerschwartz.com
(Wagner Schwartz, trabalha as questões artísticas da dança contemporânea problematizando seu ambiente e seu percurso)


Sábado, 4 de Setembro de 2010

UM POUCO DE SENSÍVEL SENÃO EU SUFOCO

Existem várias atividades. Andar é uma atividade. Construir é uma atividade. Jogar é uma atividade. Tocar é uma atividade. Discutir, contar uma história, ir em defesa de alguém ou de algo são atividades. Escrever é uma atividade. Documentar é uma atividade. Se alimentar é uma atividade. Se mostrar é uma atividade. Produzir sons é uma atividade. Produzir imagens é uma atividade. Andar de bicicleta é uma atividade. Existem muitas atividades possíveis. Qualquer atividade pode ser uma atividade viva. Uma atividade viva é uma atividade que se transforma e que se reinventa sem cessar. Uma atividade que se reinventa é uma atividade que cria sempre novas maneiras de ser praticada. Pode acontecer que uma atividade viva produza um resultado que é partilhado. Isso é uma obra. O encontro com uma obra é uma experiência sensível. O encontro com uma obra é uma ocasião de produzir sentido. Todo mundo pode produzir sentido a partir de uma obra. O sentido não pré-existe nunca. O sentido se produz no encontro. O sentido é sempre vivo. Uma obra é uma ocasião de produzir significados vivos que não pré-existiam. Um significado vivo é uma maneira renovada de perceber e então agir. Um significado vivo aumenta a liberdade daquele que o produz. Pode acontecer que uma atividade viva produza uma obra que será a ocasião de significados vivos. Isso é arte. A arte é um aumento de liberdade que pode dar origem a outros aumentos de liberdade. A obra de arte é o lugar dessa possibilidade. Um aumento de liberdade significa uma maior capacidade de agir. Arte é um dispositivo que aumenta a capacidade de ação.

Publicado por Fabrícia Martins no endereço, http://fabriciamartins.blogspot.com/

4 comentários:

  1. Acho que deve ter espaço para todos, (infelizmente não há!!) é legitimo o artista querer partir para experimentações mais aprofundadas, mas acho que deve ter um mínimo de comunicação com a platéia pq senão o vinculo que deve existir entre artista/público se rompe e perde seu sentido.
    Claro que há gente séria fazendo belas pesquisas/experimentações, mas acredito que para se perpetuar plenamente, deverá ser generosa suficiente para que o observador/platéia consiga estabelecer conexões importantes para ele próprio e para o mundo a sua volta.
    E claro! Há Tb aqueles que se escondem atrás do rótulo “experimentação” para não expor possíveis equívocos criativos. Graças a estes que a dança contemporânea ainda carrega o fardo de ser chamada de chata e ser acusada de se comunicar consigo mesma.

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  2. Ótimo !Tocamos num ponto que pra mim considero fundamental: generosidade. Como faço a interlocução entre o lado de cá e o lado de lá, percebo que algumas vezes essa generosidade se esvai por conta das especificidades da arte, do fazer arte, do próprio artista inclusive. Não posso esconder a minha preocupação com esta condição do fazer artístico, porque é esta condição que alimenta o sistema que abomino. Parto do seguinte princípio: respeito incondicionalmente todos os trabalhos, pq são legítimos essencialmente. Mas continuo me perguntando onde queremos chegar com propostas ainda embrionárias que se lançam à cena pelo argumento de que precisamos de espaço para exercitar o pensamento. Sim, precisamos, não tenho dúvida. Mas êta exercício difícil, não ? Sinto-me as vezes com um monte de chaves nas mãos tentando descobrir qual delas abre a porta de entrada da obra e me permita a plena fuição. Vamos adiante nessa discussão porque ela me parece muito boa. Abçs. Solange

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  3. Olá Sandro e Solange,

    Eu estou lendo e relendo os comentários de vocês, assim como fiz outras vezes nesse site, e imagino que esse deva ser um processo de muitos. Alguns têm o que dizer, outros preferem ficar em silêncio, mas enfim, alguma coisa está acontecendo. O que eu estou tentando fazer, juntamente com vocês, é positivizar essa situação confusa em que a gente se encontra. Primeira coisa que o Sandro nos relembra entre parênteses: não há espaço para todos. Estou acompanhando, dentro do possível, os movimentos que estão surgindo no Brasil para se pensar em que pé estamos e para aonde vamos ou podemos ir com o segmento da dança no país. Temos os seminários de economia da dança, esse próprio site “pensar a dança além dos editais”, que se tornou uma extensão do movimento contrapartida, o festival olhares sobre o corpo (em Uberlândia), o movimento dança Recife, etc etc etc. Acho que esse é um momento de nomearmos quantos somos em abrangência nacional, por que eu tenho certeza que existem muitos outros grupos, além desses poucos que citei, pensando e rearticulando essa questão tão séria de políticas para se fazer dança hoje, no Brasil. Estamos todos transtornados e precisamos que coisas mudem urgentemente, por que do jeito que está, não está bom. Será que esse não seria um primeiro bom movimento? Entender quem somos, para sabermos que não estamos sós? A Solange nos lembra da generosidade, acho que é só por aí que algo pode realmente mudar, porque as outras formas de embate cheias de ofensas, meias palavras, julgamentos ad nauseam, já nos convenceram que não dão certo. Continuar apontando problemas na casa do vizinho não vai nos ajudar a criar políticas em comum. Existe algo que todo esse grupo em sua diversidade deseja. O que poderia ser?

    Abraços, W.

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  4. Triste... Mas aqui no Brasil o publico não faz parte do “pensamento” da criação de dança... Principalmente no que vemos em dança contemporânea...
    Pode soar "escravidão", estar preso a ação de "agradar" o publico.
    Mas quando ouço vindo da boca de produtores/curadores a frase "fomentar publico", sempre vejo essa ação ser designada a eles apenas, as instituições/teatros/festivais e vejo que o artista/criador nunca se sente responsável por isso...
    Mas no meu ponto de vista, deveria.

    "Formação de publico para a dança" tem haver com fazer algo que o publico se interesse e que dialogue com ele diretamente, para que ele (o publico) faça parte do processo de "evolução" dessa dança e dessa forma realmente entende-la (ou não), mas de forma verdadeira apreciá-la.

    Não adianta chocá-lo com suas idéias “revolucionarias” se esse publico ficou ausente (por opção da dança) de todo o processo.
    Por anos elitizaram a dança... Por anos a classe media se colocou em posição contraria a popularização dessa forma de arte.
    Mas agora, estamos falando de políticas publicas e então, ter esse publico tem que passar a ser interesse desse "pensamento em dança".
    Minha Opinião...

    Por: Frank Ejara

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