DIA 16 DE NOVEMBRO ESTIVERAM PRESENTES NA CÂMARA DOS VEREADORES DA CIDADE DE SÃO PAULO MAIS DE OITENTA PROFSSIONAIS DA DANÇA EXIGINDO A AMPLIAÇÃO DE RECURSOS PARA O PROGRAMA DE FOMENTO À DANÇA, TRANSPARÊNCIA NA UTILIZAÇÃO DE RECURSOS E AMPLIAÇÃO DOS PROGRAMAS DE DANÇA A FIM DE ATENDER A DEMANDA EXISTENTE NA CIDADE.
MOMENTO DE FESTEJAR MAIS UMA VEZ A MOBILIZAÇÃO DA DANÇA PAULISTANA !
MOMENTO TAMBÉM DE ESTARMOS ATENTOS !
ESTAMOS EM FASE DE VOTAÇÃO DO ORÇAMENTO PARA 2012. O MOMENTO É ESSE. A HORA É AGORA ! NOVAS MOBILIZAÇÕES VEM PELA FRENTE ! PARTICIPE !

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22 outubro 2010

A LEI DE FOMENTO AGONIZA NAS MÃOS DE GESTORES PÚBLICOS MAL-INTENCIONADOS !

A Lei de Fomento à Dança assim como a de Teatro agoniza nas mãos de gestores públicos insensíveis e descompromissados com a responsabilidade de executar, 'apenas' executar aquilo que já está consolidado: a produção artística na cidade de São Paulo.
Criada a partir das discussões de coletivos organizados, a lei de fomento possibilita não apenas a manutenção de núcleos artísticos, como também a continuidade de pesquisa de linguagem de cada companhia fazendo emergir elementos dramatúrgicos de alto teor investigativo e poético. Sem falar na quantidade de espetáculos cênicos de dança e de teatro que fazem pulsar a cidade de São Paulo como nunca se viu antes, ampliando as referências estéticas do cidadão paulistano tornando-o capaz de perceber-se como protaganista da sua própria história.
Acha pouco ? Ficaria horas e horas falando sobre as possibilidades de transformação do homem e do seu cotidiano pela arte. Mas não teremos tempo pra isso, pois em breve a Lei de Fomento será extinta.
Fica aqui então mais uma questão, dentre tantas que venho lançando neste blog: o que leva um gestor público a perseguir uma lei criada  pela classe artística, garantindo produções em dança e teatro inovadoras, uma lei que se tornou referência em todo país ?
Ódio a arte ? Aos artistas ? À sociedade ? Descaso apenas ? Descuido talvez ? 
Ressentimentos ? Ou algum outro desejo submerso nas profundezas fétridas da consciência humana ? O PODER ?
Todos sabem que este sentimento, em qualquer contexto, exalta desejos e atos surpreendentes, muitas vezes obscenos e quase sempre letais.
Temos exemplos "bem interessantes" na história.  Adolf Hitler é apenas um deles.
Apreciador incondicional das artes e de uma inteligência exuberante. Porém...
Mas retomemos a questão: o que faz um gestor público ter o desejo de exterminar um política pública que revelou um outro modo de instaurar o espaço das artes cênicas na cidade de São Paulo ? Só não vê quem não quer .
Será que o mísero orçamento destinado por ano para a Lei de Fomento à Dança e ao Teatro, responsável por 80% da programação cultural na cidade, atrapalha projetos mais ambiciosos, como por exemplo a Virada Cultural ? Sim, porque a Secretaria Municipal de Cultura é incapaz de criar outros programas que dialoguem com a sociedade da mesma forma ou melhor que o Fomento.
Gasta-se milhões com uma política de eventos com uma programação difusa, pobre, equivocada e estrategicamente burra ! Que não agrega o munícipe, nem o trata com respeito. Quem participa da Virada Cultural desde a primeira edição sabe muito bem do que falo. Da degradação da cultura e da arte expostas à um vitrine de horrores a cada edição !  
A Lei de Fomento à Dança e ao Teatro agoniza ! E prestes a desaparecer, vemos surgir milhões e milhões de tiriricas, imbecis que se proliferam, produto de uma gestão pública insensível, descompromissada e irresponsável...e porque não dizer imbecilizada pelo jugo do poder. 
Saúdo o Sr. Secretário Municipal de Cultura (Calil) e Sr. Prefeito (Kassab), pelo ato tirano, insano e inconsequente ! Com um simples decreto conseguiram fazer o que há tempos vêm tentando: exterminar a arte, exterminar a cultura, exterminar o futuro !
Fica então decretada a morte  do Fomento !
Fica também decretada a falta de escrúpulos dos nossos gestores que investem cada vez mais em projetos medíocres e se escondem atras das mesas de gabinetes tão fétridas quanto a própria consciência !
Que morram os artistas !


27 comentários:

  1. A dança paulistana vive um dos momentos mais tensos pois assiste indignada a descaracterização da Lei de Fomento por meio de um decreto criado arbitrariamente pelo Secretário Municipal de Cultura. Reuniões grandes, pequenas, e-mails, telefonemas, conversas aqui e acolá...e a categoria volta a se unir para defender uma causa coletiva. Não se trata apenas da nossa sobrevivência enquanto artistas. Nossa batalha transcende uma questão que por si só já deveria estar resolvida. A sobrevivência de qualquer trabalhador em condições dignas é um direito garantido, ou pelo menos deveria ser. Mas não é isso o que pensam os gestores que ocupam cargos públicos à nossa revelia.
    Artistas, trabalhadores insanos numa sociedade injusta: atentem para a GRANDE MOBILIZAÇÃO NA PRÓXIMA SEMANA! SEJA PROTAGONISTA DA TUA HISTÓRIA !

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  2. Esta gestão não é interessada em emancipação social e cultural. Muito menos tratar a arte como arte, e não como perfumaria, que é o que eles mais sabem fazer. Projetos de grande "visibilidade", como a Virada, servem pra angariar votos. Simples assim.
    Se estes senhores não respeitam nem as próprias leis, criando decretos inconstitucionais, como iremos esperar o mínimo respeito com o trabalho que desenvolvemos?
    Sugiro, além do que já sugeri outras vezes, que sensibilizemos toda sociedade civil do que são as leis de fomento e como a partir delas o cidadão é acessado. Falo isso porque me ocorreu o seguinte: quantas pessoas que assistem aos espetáculos e participam de outras atividades fomentadas, sabem de verdade o que é uma Lei de Fomento?
    Sinto que há muita falta de informação chegando à população em geral.
    Vamos pensar juntos?

    Abraços.

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  3. A luta é inglória pois a mídia capitalista está aí com toda força manipulando o povo.
    Acho que nós artistas devemos perguntar para nós mesmos por que ou para que tal pesquisa?
    O que quero com isso?
    É para mim ou para a coletividade?
    Quero mudar alguma coisa?
    Acho que a arte precisa voltar a ser panfletária, talvez assim possamos conseguir quebrar o gelo da população com relação a nossa arte.
    Como se cada espetáculo fosse de verdade um ato de guerrilha contra o sistema.

    Sandro

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  4. Parece-me contraditório: acena para "a lei de fomento [que] possibilita não apenas a manutenção de núcleos artísticos, como também a continuidade de pesquisa de linguagem de cada companhia fazendo emergir elementos dramatúrgicos de alto teor investigativo e poético" e se opõe a imagem de Hitler, como "tirano, insano e inconsequente", tapando parte do texto.

    Hitler estava longe de ser "tirano, insano e inconsequente" nem "imbecilizado pelo jugo do poder.".

    Assim como a simbologia de Hitler está longe de se opor profundamente a "pesquisa de linguagem de cada companhia" impedindo a emersão de"elementos dramatúrgicos de alto teor investigativo e poético".

    Esta reivindicação que pauta no dever do Estado como fomentador artístico revela sérios problemas. Outros mais na reivindicação pela liberdade de criação individual, tipicamente expressivo das nossas relações pessoais de mercado.

    Tanto uma como outra reivindicação podem ser atendidas se colocadas nos termos do comércio. Como se trata de demandas que querem participar deste mundo, e não se opor a ele, o melhor seria se enveredar completamente no mundo dos negócios. Sem hipocrisia, sem ironia, colocando a Arte como ela deve ser hoje: uma mercadoria. Dá-se um jeito, ainda que seja pior do que os projetos artísticos do nazismo...
    Victor.

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  5. Não Victor...não há contradição alguma. Talvez vc esteja equivocado em relação ao assunto que aqui estamos tratando.Talvez precisaráimso discutir aqui o que é mercado, o que é mercadoria, o que é arte, o que é mundo dos negócios, e por aí vai. Sugiro à vc Victor, inteirar-se do assunto desse blog em outras postagens, assim vc se dá conta do que é legítimo ou não nas nossa reivindicações. Peço-lhe inclusive que se coloque melhor e defenda a tua idéia, pois esse canal virtual se propõe à isso especialmente, embora esteja servindo como canal de informações para a categoria com uma abrangência que ultrapassou o estado de São Paulo. Aguardo tuas considerações com maior clareza.
    Gracias.
    Solange

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  6. Solange, você relaciona o momento de indignação da dança paulista com a descaracterização da Lei de Fomento. Coloca a questão em termos claríssimos: "sobrevivência de qualquer trabalhador em condições dignas é um direito garantido. Mas não é isso o que pensam os gestores que ocupam cargos públicos à nossa revelia".
    Esta oposição não é privilégio da "categoria", ou como vocês chamam erroneamente da "classe artística". Mas uma contradição geral e necessária de qualquer trabalho neste mundo. Portanto, sua "batalha" deve ser nestes termos.
    A confusão se dá para essa "categoria" quando acham que a "questão" "já deveria estar resolvida" e exigem a "manutenção de núcleos artísticos, como também a continuidade de pesquisa de linguagem de cada companhia fazendo emergir elementos dramatúrgicos de alto teor investigativo e poético".
    Não, Solange... Hitler nem de longe quis abolir as contradições do trabalho. Suas reivindicações, portanto, não vão contra também ao que chama de tirania e de insanidade de gestores públicos. Elas permanecem nos termos mercadológicos, com suas contradições necessárias. Elas são legitimamente deste nosso mundo atual e não quer romper profundamente com ele. Por isso tratar a arte como um produto a ser vendido possivelmente resolverá as questão da "categoria".
    Victor

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  7. Victor, não quero me estender aqui, pq aguardo ainda manifestações de outros seguidores desse blog para diversificar as opiniões e entendimentos. Mas considero importante ressaltar que, se existe de fato um pequeno núcleo de trabalhadores artistas estáveis que têm uma série de benefícios e garantias e, por isso, acabam se identificando ideologicamente com os patrões e seus interesses, por outro lado, há uma larga massa de artistas que, para sustentar se sustentar e sustentar o sistema, vive na informalidade e precariedade, instabilidade, evitando inclusive envolver-se em causas "operárias" para não se expôr e depois "sofrer represálias". Mal percebem que já sofrem represálias pelas próprias condições à que se sujeitam. E é esta divisão que gera uma segmentação e fragmentação da classe artística, diminuindo, em última instância, seu poder de mobilização. Por causa desta heterogenização estrutural deduzo que não existe mais uma classe social objetivamente determinada e historicamente destinada a fazer uma revolução política e social. Talvez isto não seja motivo ainda para pessimismos. Talvez ainda possamos acreditar na busca de uma emancipação enquanto desenvolvimento histórico. Lembrando que tudo está em suspenso em nossa liberdade, inclusive a própria liberdade. Estou me pautando timidamente pela ideologia marxista que vê no desenvolvimento histórico e social o único sentido que o desenvolvimento pode ter.
    Ainda sobre tuas considerações, temos conceitos diferentes de classe e categoria. CLasse artística, categoria dança, ou categoria teatro, ou categoria circo, enfim. Mas podemos avançar nessa discussão num outro momento.
    De qualquer modo...PROTESTO contra tua posição no final do teu comentário: "tratar a arte como um produto a ser vendido possivelmente resolverá as questões da 'categoria'"...
    Então insisto...tratar a arte como arte e não como mercadoria, pois nesse tratamento é que incide a precarização da arte, do artista e da sociedade. Vamos avançando nessa discussão que me parece muito boa. Abç.

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  8. arte, nos dias de hoje, já está sendo tratada como produto a ser vendido, victor. não precisamos reafirmar isso. a gente já foi convencido. por isso o caos, a intranquilidade e a falta de criatividade espalhada nas práticas artísticas pelo mundo. acho irônica essa ideia de "resolver questões". ela é uma apologia ao neo-liberalismo, que nos atinge sutilmente com suas perversidades mercadológicas. bom, se a intenção é encontrar uma saída, mesmo que reacionária, estamos precisando pensar um pouco mais.

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  9. E complementando o comentário do amigo Wagner, já que a arte nos dias de hoje está sendo mesmo tratada como produto a ser vendido. Pois bem ! Me rendo à essa afirmação.
    Então que seja BEM VENDIDO, MUITO BEM VENDIDO ! E NÃO SUCATEADO E SOFRENDO TB PRECARIEDADES em relação aos CACHÊS, aos PAGAMENTOS desses CACHÊS, E AO TEMPO QUE AS COMPANHIAS AINDA LEVAM PRA RECEBER esses mesmos CACHÊS, TENDO QUASE SEMPRE QUE BANCAR DO PRÓPRIO BOLSO AS DESPESAS DE PRODUÇÃO (ALIMENTAÇÃO, TRANSPORTE E HOSPEDAGEM E AJUDA DE CUSTO AOS BAILARINOS). Solange

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  10. É dito no manifesto: "garantir que as necessidades e especificidades da DANÇA, tanto quanto dos demais segmentos (...) sejam contempladas numa visão que está além do mundo artístico-cultural" mas "distante da política de eventos". "Somos trabalhadores da Cultura e é desse mercado que estamos falando".

    Não consigo entender que mercado é esse, específico da Cultura (com maiúscula). O que há de específico?

    O manifesto pede que se crie uma "política pública cultural" que contemple as necessidades da Dança. As necessidades pautam-se na "criação, pesquisa, memória, produção, circulação e fruição dos bens culturais". Mas estas seriam a especificidade do produto Arte hoje em dia?

    Todos os elementos que compõe uma sociedade adquirem uma função nela. Os aspectos da vida societária (educação, filosofia, tecnologia, o Estado, religião, artes) devem responder a uma demanda determinada. Para além do "convencimento" lamentado por Wagner, hoje todos os elementos sociais se constituem, essencialmente, uma mercadoria.

    Hoje, a arte só pode existir de fato (e não sobreviver) se for vendida. As necessidades dos artistas estão intimamente ligadas a isso, ainda que apareça a contradição sentimental: "criar para o mercado". Por si só, essa condição não gera "falta de criatividade".

    "Caos", "intraquilidade" e "que seja muito bem vendida", "manutenção de núcleos artísticos", "pesquisa de linguagem de cada companhia", "alto teor investigativo e poético", tudo isso faz parte do mundo dos negócios. Os artistas não querem mais do que poder fazer o que querem... e este espaço só lhes é dado no mundo das mercadorias. Benção.
    Victor

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  11. victor, antes de tudo, obrigado por estar pensando também. questionando. acredito que isso seja parte do que se pode chamar de democracia, em um tempo em que ela tem sido exercitada em poucos países. essa forma com que você nos leva a entender o nosso ambiente é, também, importante. digo, através do que você expõe, eu vejo sua relação consensual com as demandas do mercado. você acha isso criativo. pode ser também.

    a única coisa que me preocupa e acho que posso incluir a solange, é que o espaço que existe (hoje) para quem não quer atuar em conjunto com o mercado é muito pequeno, pouco democrático. isso cria indignação (de poucos, também). temos que criar blogs, porque a mídia não quer nos escutar. temos que ir às ruas, para dizer: "estamos vivos, queremos respeito"... mas, tentando escapar do lugar da vítima (que também não gera nada, além de ressentimentos) a única coisa que estamos pedindo, é que esse lugar seja considerado em sua importância, assim como o lugar das novas leis, advindas do capitalismo.

    pensando bem, isso não é muito. nem tão pouco, sentimental, como você nos diz. na realidade, essa chance de se criar além do visível, é poder exercer a própria função de artista. na época da ditadura, nem poderíamos discutir como estamos fazendo agora e, poderia dizer (temendo algumas represálias) que foi o momento em que a potência criativa saiu das bordas. artistas como chico buarque, gilberto gil, caetano veloso, lygia clark, hélio oiticia não criaram para o mercado. mas continuaram seu trabalho (pequeno também), apesar dele. o que eles fizeram não pode ser consumido, mas somente experienciado, com memória afetiva-política-social.

    o que queremos é também um lugar para maximizar a potência daquilo que acreditamos, por estarmos conscientes, politicamente, desse mesmo lugar.

    estou por aqui.

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  12. Me parece que o amigo Vitor deve ter feito curso de gestão pública dentro do PSDB, pois sua fala contempla o total neo liberalismo nas artes.
    Sou totalmente contra isso!!
    Acho que o companheiro poderia expor suas idéias para este MOVIMENTO quem sabe nos faria refletir??
    Vai ter assembléia hoje na câmara municipal, temos nos reunidos no teatro coletivo toda semana.
    Está convidado.
    Sandro

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  13. Sandro e Wagner, não estou elogiando a forma como as coisas estão hoje em dia. Estou tentando entender como as coisas são, independente do que queremos dela. Antes de levantar palavras de ordem como "a cultura não é uma mercadoria", vale a pena analisar a realidade e perceber se é possível, nesta forma organizacional em que vivemos, a arte não ser mercadoria. Assim como a "função de artista" não é de livre opção, mas dada e determinada pela sociedade, pois só pode ser um papel social. Quer queiram, quer não.

    Vejo uma contradição deste movimento de alguns artistas paulistanos (que na verdade generaliza-se no mundo todo) em que clama-se para a sociedade por condições básicas para a produção artística mas ao mesmo tempo quer permanecer nos mesmos marcos desta sociedade sacana.

    Tentando entender qual é a reivindicação deste grupo, percebi que essas necessidades podem ser satisfeitas se de fato considerar a arte como um produto a ser vendido. Tornando-o lucrativo, não há dúvida que terão apoio. A reivindicação não é minha.

    Mas não querem simplesmente tornar sua produção lucrativa, condicionada pelo que irá vender mais. Querem permanecer livres, "não atuar com o mercado"... mas num mundo onde só importa o mercado. Ora, Sandro e Wagner, esta contradição também não é minha.

    Não compactuo com "liberalismo" nem com as "demandas do mercado". Mas também não acredito que com a predominância do modo de produção capitalista a "Democracia" ou "maximizar a potência daquilo que acreditamos", tenha algum sentido mais que individual e amesquinhado.

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  14. Caro Victor, sua manifestação não é, de todo, uma inverdade. Ela é só e somente UMA única perspectiva sobre a arte. É apenas uma fragmentação, um recorte.
    Não somos contra o mercado, somos contra quem dita as regras deste mercado, e como estas são ditadas, até porque este mesmo mercado, sendo excludente, não está aquém das políticas públicas, como sempre parece aos mais desinformados de plantão.
    Podemos olhar a cultura por diversas perspectivas: a da indústria cultural, da educação, da emancipação social, da construção de pensamento, do direito cultural - sendo estas quatro últimas, a cultura como meio e também como fim em si mesma. É muito mais sob esta perspectiva que estamos trabalhando, até porque, para o mercado, isso não simplesmente não interessa.
    E falando em políticas públicas, oras, acho que estamos um pouco cansados dessa coisa bem brasileira de "carga tributária suíça e serviço ugandense", como brinca um amigo meu quando discutimos a questão dos impostos que pagamos à duras penas e que não vão para onde deveriam, deixando a maior parte das populações à mingua destas decisões políticas.
    Já aconteceu de conseguir um grande patrocinador de uma multinacional para um projeto, através do PROAC ICMS, quando, antes da assinatura do contrato, o departamento de marketing resolveu botar o dedo no processo todo de trabalho, destruindo absolutamente tudo que estava previsto. No fim das contas, o grupo não quis assinar o contrato porque eles simplesmente não realizariam a contento o projeto que, inclusive, ja estava aprovado, com todas as suas resoluções. O que estou querendo dizer, com este exemplo, é que infelizmente os profissionais de marketing nao estão preparados ou são totalmente ignorantes em relação a um processo artistico/cultural - o que interessa a eles é somente saber se o público irá consumir o seu produto, seja ele um sabão em pó, um iogurte, um tênis, ou um software, etc. Aí a cultura vira somente muro de arrimo para divulgar uma marca, que não está comprometida com os bens culturais, aliás, eles estão pouco se lixando pra isso. E no caso dos mecanismos de renúncia fiscal, é bom deixar claro que estas empresas não tiram o dinheiro da sua margem de lucro pra investir num projeto cultural, e sim, destinam o valor de um IMPOSTO para este projeto. No fim das contas, é dinheiro público também.

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  15. Na área de música, por exemplo, é nítida a podridão desta relação entre arte e mercado. Ganha quem tem uma grande gravadora por trás, que tem dinheiro para pagar os famigerados jabaculês nas emissoras comerciais de Rádio e TV, o que, inclusive, geram imposições "estéticas", se assim posso chamar. Aliás, quem ganha com a venda de discos não são os músicos e muito menos os compositores, estes sempre esquecidos, são as gravadoras e as emissoras que veiculam seus "produtos finais". Os músicos ganham com as vendas de shows e bilheterias que, tendo esta "visibilidade midiática", conseguem vender mais.
    Ainda assim, há muitos músicos bons no Brasil que continuam seus trabalhos, continuam compondo e se apresentando quando podem, mesmo estando fora deste mercado, que os exclui por interesses excusos.

    Ou seja, há muita gente produzindo arte independente do mercado - e posso dizer que é uma grande maioria.

    Ainda que, no caso da música, é muito mais fácil veicular e distribuir seu trabalho em larga escala por conta das gravações em CD. No caso da dança e do teatro, é muito mais difícil, porque trabalhamos em tempo real, ao vivo e à cores. Lidamos com o efêmero.

    Portanto, é visível que não aceitemos o que o tal mercado impõe, e é totalmente legítimo que queiramos que nossos governantes somente cumpram suas obrigações a contento e que os cidadãos sejam contemplados através dos impostos que pagam. Neste ponto, caro colega, não dá pra dizer que é uma posição individualizada e mesquinha.

    A arte já existia em praticamente todas as sociedades do mundo, desde os primórdios da nossa humanidade, antes mesmo de existir mercado, e continuará existindo além dele.
    E não é preciso ser um historiador ou antropólogo pra saber disso. É fato consumado. Simples assim.

    Seguimos debatendo.

    Abraços a todos.

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  16. victor, quem é você? para falar de individualismo ou amesquinhamento a gente deve sair do lugar de anônimo. aliás, para falar de como os outros não estão pensando direito é preciso entender a biografia de quem se dirige.

    como eu não tenho mais colaborações e a calu baroncelli nos trouxe mais informações para pensar, eu vou ficar por aqui. esperando o próximo tópico do blog, para continuar colaborando.

    como havia dito no meu primeiro post, nós já fomos convencidos de como as coisas são. agora é ver o que dá para se fazer, ou continuar apesar delas.

    abraços,

    w.

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  17. Calu, você diz: "Não somos contra o mercado, somos contra quem dita as regras deste mercado, e como estas são ditadas". Isto não está correto. Quando há o mercado do jeito que há, é ele que dita as suas próprias regras. Entendo que o liberalismo de fato não agrada vocês, preferem que os editais cumpram "democraticamente" a distribuição de verbas para as expressões culturais, deixando que o mercado atinja só indiretamente as obras. Mas também não dá para dizer que é possível, hoje, permanecer "fora" ou "independente" do mercado.

    Numa sociedade em que o mercado se impõe de tal forma, querer aproveitar as benéses dele mas sem os seus ritmos é ter muito candor. Vocês acreditam que o Estado deveria cumprir essa função. Depositam nele o poder neutralizador dos malefícios da lucratividade, competitividade. Não vêem que ele, assim como todo o restante da sociedade, só consegue existir se estiver participando ativamente da especulação. Hoje, o Estado está lá para cumprir uma missão muito específica: não deixar em crise (por nenhum lado) os que saem ganhando com a exploração do homem pelo homem.

    A reivindicação dos artistas é ter sucesso sem o "dedo" dos outros. No fim, levando em conta a miséria do mundo atual, é ter um privilégio. Estão falando em nome dos artistas, e não dos trabalhadores. Também querem se dar bem neste mundo, e acham que o Estado é o responsável por isso. Sem radicalidade e com poucas pretensões pedem que os "cidadãos sejam contemplados através dos impostos que pagam". Maravilha!

    Victor

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  18. Victor, antes de eu escrever mais palavras por aqui, peço que vc esclareça a mim e outros colegas participantes, de qual mercado vc está falando e como ele funciona. Além disso, explique-nos também o que na sua visão significa "ter sucesso" ou "querer se dar bem".

    Peço encarecidamente essas explanações, porque é fácil cairmos numa visão bem distorcida das coisas e acabarmos por cair num embate retórico e sem fim.


    E por favor, artistas são trabalhadores sim, senhor.

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  19. Primeiramente sou “Anônimo” por implicação do sistema. Em seguida, sou Victor Lacerda, professor de história, pesquisador em Arte, Sociedade, História e Marxismo. Faço mestrado em História Social, e meu tema está na história da música erudita no Brasil. Faz oito anos que pesquiso a relação do artista e da arte com a sociedade. Chego a me intrometer neste movimento atual dos artista em São Paulo, pois agora me sinto capaz de contribuir de alguma forma.

    Meu primeiro movimento foi entender o que estava em jogo e quais eram as necessidades do grupo. Tive mais facilidade para conhecer melhor o mundo da dança na cidade e suas questões (“coisas da vida”). Cheguei a este blog da Solange.

    As discussões até agora puderam me mostrar como que a reivindicação da Dança (que nem representa todas as Cias paulistanas), e de alguma maneira do Teatro, se relaciona com esta sociedade em que vivemos. Sei bem que esta sociedade está baseada na exploração humana, tendo como princípios a liberdade individual, o direito a igualdade e o direito a propriedade. Estes são os pilares nos quais assenta toda a miséria e a “maravilha” atual. O trabalho e o capital não se acertam, tendo como vencedor aquele que obriga o trabalho a se separar da vida. A necessidade social de expandir o valor do dinheiro transforma, para além de qualquer chororô, todas as coisas em um produto a ser vendido e consumido.

    A arte, com suas diferentes formas de comunicação, assume diferentes funções sociais em cada sociedade histórica. A arte pressupõe comunicação, e por isto ela é social. Desta maneira, a arte em nenhum momento pode estar fora ou alheia à sociedade (mesmo uma arte que não pode mais comunicar, como a arte atual, está inserida numa sociedade, no caso: em decadente crise).

    No mundo de hoje, a arte pode estar na corrente do mercado. Se estiver, ela deve ser condicionada pelos imperativos da oferta/procura. Se um artista não vê este mundo com bons olhos e nega-se a adentrar no rio da especulação, ou realmente é incapaz de lidar com negócios, a alternativa, como se sabe, não terá respaldo nem importância social significativa. Para sobreviver, o artista terá que descobrir os meios pelos quais ele acaba vendendo seu produto ou sua força-de-trabalho.

    O que o movimento atual da Dança está pedindo é que o Estado assuma esta responsabilidade de bancar estes artistas que não estão dispostos a concorrerem no livre mercado (mas a disputarem entre si nos editais). Há nesta perspectiva um passo interessante em serem os artistas mesmos os responsáveis pela distribuição da verba, apesar de pouca condição para tal autonomia.

    No entanto, como tentei mostrar, esse movimento limita-se a garantir um lugar ao sol para os artistas que não querem ou não conseguem vender seus trabalhos. Não há perspectiva de classe (marxistamente falando), não tem interesse em mudar o estado das coisas, em diminuir a miséria, em re-transformar a arte em algo realmente significativo socialmente. A necessidade deste grupo se limita a resguardar para si (no máximo para outros artistas) um dinheirinho para continuarem fazendo o que bem quiserem, pois acreditam piamente que sua arte fará as coisas melhorarem.

    Não se importam que a sociedade toda está em crise, que a exploração e o individualismo, a desgraça e as mentiras, fome e guerra estão fulminando qualquer perspectiva humana. Se importam na medida de seus interesses. Não colocam essas preocupações em seus trabalhos, por que haveriam de colocar numa reivindicação política?

    Nunca duvidei da sinceridade das reivindicações. Nem acho que ficar dançando “desigualdades”, “injustiças”, tenha algum sentido isoladamente (ainda que já seja alguma coisa). Mas do que poderia ser apreendido com o movimento revolucionário histórico mundial, lutar por aumento de salário ou um pouco mais de verba para tal sercretaria se faz risível diante da urgência atual! Abraço, Victor.

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  20. A ação cultural deve pôr em prática os objetivos de uma determinada política cultural.
    Independente desta política seguir a lógica da oferta ou da demanda já é consolidado que vivemos uma gestão desinteressada nas questões culturais.
    Logo, independente desta ação ser de serviços ou criação, o modo de produção capitalista tratará de inseri-las no mercado.
    È claro que a discussão fica sobre quem controla os mecanismos de produção cultural e na possibilitação do acesso à produção de cultura em si mesma.
    È claro também que a classe aqui não se identifica com o liberalismo, mas será que ela ainda está a espera de uma política de sustentação e ampliação do capital cultural que passe pela discussão das formas de controle da dinâmica cultural?
    Estariamos criando condições de práticas duradouras, quer de consumo quer de produção?

    João Paulo

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  21. Caro Victor, obrigada pela explanação e pela apresentação.
    Veja bem, não sei até que ponto você conhece bem o "mercado de dança" neste país, ou o de teatro. Sinto que, em sua fala, dadas as devidas proporções, falta algum estofo, de conhecimento de causa mesmo nestas áreas especificamente. De onde vc tirou que nós não colocamos as questões de crise social e humana em nossos trabalhos, ou que não nos preocupamos com elas?
    Você faz idéia de quanta mão de obra é gerada direta ou indiretamente numa única produção profissional?

    Consigo entender, pela sua fala, que você pegou um pouco o "bonde andando" nessa história, sem ofensas ou retaliações à sua colocação, muito pelo contrário. Inclusive senti que agora mudamos um pouco o tom da conversa.

    Talvez um pouco mais de informação neste aspecto tire a visão superficial que está fazendo sobre as nossas reivindicações e especialmente sobre nossos trabalhos.
    Estamos à disposição.
    Abraços.

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  22. Caro Vitor, suas ponderações são bastante confusas, às vezes uma visão totalmente capitalista e sórdida e em outros momentos sua fala transita num universo socialista.
    Acho que a companheira Calu tem razão, a falta conhecimento do que está acontecendo é flagrante.
    O fomento é uma conquista da dança e do teatro de grupos e coletivos brasileiros, que defendem um modo de produção artística que não seja mercadoria ou ações da bolsa de valores. Ele não é uma disputa por verbas. Ter verba pública é a reivindicação de um conceito que estrutura um modo de instaurar o espaço das artes cênicas nos bairros, nas comunidades, no cotidiano de uma sociedade, proposto por artistas que vivem esta relação com o público: uma relação pública. Isto não é um desejo só de São Paulo. Todas as lutas organizadas pelos coletivos de Teatro e Dança, reivindicam suas Leis Específicas e o Prêmio Brasileiro ao Teatro que são uma espécie de Fomento Nacional.

    " A HISTÓRIA DE TODAS AS SOCIEDADES NADA MAIS É DO QUE A HISTÓRIA DA LUTA DE CLASSES" Karl Marx

    Sandro

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  23. olá victor. agora fica mais sóbrio falar com você. é muito interessante observar esse discurso que se abre depois de sua apresentação. em dias anônimos, a biografia deixa a escrita mais precisa.

    concordo com a calu e, imagino, que a única coisa que te falta, para elaborar o seu discurso, é informação em relação ao ambiente da dança, sua história e a sua produção que desde sempre, gerou transformações palpáveis na questão social no brasil. (mas arte não tem papel social e, ao contrário do que você pensa, não precisa comunicar. arte precisa causar problemas.)

    será que marx ainda daria conta de todo esse caos? como a necessidade da criação do blog "pensar a dança... além dos editais"?

    esse não é o "blog da solange", como você afirma. esse é um espaço democrático, que adentra o espaço da política, para tentar, em conjunto, visualizar formas de existência daquilo que prescinde socialmente nos dias de hoje: os encontros, as opiniões, a expressão enquanto potência, a rearticulação de nossas inquietações socio-culturais. pensar a dança além dos editais, é pensar as formas de vida além das existentes. e isso não é de ordem utópica, mas tem caráter de urgência. se não ficou claro que não estamos lutando por verba, precisamos reafirmar, então, que aquilo que está em jogo aqui é a extensão de nossos valores idiossincráticos, do sujeito, da subsistência.

    não sei se marx nos daria tanto a entender nos dias de hoje, visto que seu papel enquanto intelectual causou estragos no regime totalitarista na rússia, e mais tarde no bloco soviético. regimes que teriam a função igualitária nos acordos sociais... milhares de mortos.

    sua escrita me parece ressentida, victor. principalmente quando vejo que seu desejo é afetar o que você desconhece de forma depreciativa. a falta de experiência nos leva a lugares muito obscuros, à elaborações preconceituosas, ou mesmo à reações totalitárias. hoje, por exemplo, eu me vejo entre um grupo que se formou a partir desse blog, que não conhecia. nossas diferenças metodológicas, na questão artística, não nos impede de pensar as coisas que potencializam nosso ambiente em comum. isso vem de um esforço intelectual enorme entre cada um dos que estão aqui, enquanto colaborador, ou daqueles que lêem esse blog à procura de informação. fazemos concessões, abrimos mão de nossas individualidades. inclusive, estamos conversando com você, por que acreditamos que essa desigualdade em nosso discurso pode colaborar com o aprimoramento de nossas ideias.

    e, por último, eu me recuso a pensar em ser anônimo por implicação do sistema. visto que não sou anônimo. tenho nome, endereço, trabalho e com minhas ideias faço, sim, as coisas melhorarem. “coisas” nesse caso, são aqueles que querem discutir sobre formas de vida – e isso não é em grande escala. a grande escala não tem tempo para pensar. todos os artistas que respeito, leio, escuto, assisto, perderam noites refletindo em como potencializar a capacidade mental de uma sociedade, em sua época, dentro de sua história. pensaram, obsessivamente, em reavaliar as leis, não enquanto folclore romântico, mas como uma experiência de simplificação de seus materiais.

    mudar as coisas, victor, é primeiro mudar a si (essa frase é óbvia, um tanto ingênua, mas o óbvio, também não é para todos). enxergar esse outro dentro de suas capacidades políticas e ajudar a pensar, sempre numa relação de vai-e-vem, de troca. estamos aqui para isso. esse blog foi criado para isso. para aprendermos.
    ainda estamos estudando...

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  24. É fato que somos parte da sociedade moderna e que não somos apenas contaminados dela, somos filhos dela, mesmo que repudiemos alguns de seus valores. Logo, estamos imersos na valoração do conhecimento intelectual em detrimento do sensível. Parece-nos que temos espaço para expressões individuais, mas esse espaço está condicionado ao sistema. É fato: especialize-se, produza em larga escala, atinja o maior número possível de pessoas, seja rápido que será reconhecido e terá êxito. Acho muito válido percebermos isso enquanto lugar ocupado por nós! Porém acho incrível também a possibilidade de ocuparmos um outro lugar, um lugar que pode parecer inoperante do ponto de vista macro, mas que representa mais que uma poética isolada. Um lugar que nos permite almejar um outro jeito de sentir o mundo e de fazer com que outro sinta. Esse outro pode ser apenas UM outro, mas não deixa de ter um significado transformador na história e nem mesmo de ter um desejo real de mudança de mundo. Essas preocupações não precisam estar EXPLÍCITAS nos trabalhos artísticos, elas são parte deles, a partir do momento que sugerem um saber sensível, relacionado à compreensão do sabor das coisas, do cheiro, da dilatação do tempo, dos sentidos..... Só estou querendo apontar um novo olhar para a discussão que é percebermos que se a crise da sociedade existe e o papel da arte (à margem) parece ínfimo, ainda assim ele é uma concreta possibilidade de sobrevivência da espécie.
    Vanessa Macedo

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  25. Calu, faço parte do público e do contribuinte que quer ser "contemplado através dos impostos que pago" (se essa é a forma que você coloca). Além disso, leio os documentos que o grupo expõe para a sociedade.

    Mão-de-obra gerada, movimentação de dinheiro para um espetáculo nada dizem sobre perspectiva humana. Provavelmente, até o contrário. A arte permanecerá sem os efeitos desejados, permanecerá risível. E todos os trabalhadores permanecerão explorados, inclusive o pobre artista (pelo jeito, sem saber).

    Por isso "a discussão" não pode ficar "sobre quem controla os mecanismos de produção cultural e na possibilitação do acesso à produção de cultura em si mesma", como disse João Paulo. Na verdade, pode... se entendermos a questão do "controle" não do ponto de vista dos artistas, mas inserido no movimento mundial de oposição à propriedade privada. Infelizmente, só assim será possível falar novamente de Arte.

    Isto não está na reivindicação de vocês, pois não há necessidade para isso; vocês não sentem a propriedade privada atravancando a própria existência. Ao contrário, ela possibilita que cada artista se comprometa com aquilo que lhe interessa, total liberdade de criação, permite centrar as questões no indivíduo e individualmente elaborar uma linguagem própria. Com a propriedade privada constituindo a sociedade, o artista é “livre” para criar e livremente submetido a vender alguma coisa para sobreviver. A propriedade privada obriga que quem tem se agarre com todas forças a ela, e desconsidere a possibilidade de perdê-la. O artista atual acredita ter alguma coisa muito valiosa, e não está disposto a cedê-la, mesmo que a consequencia seja a completa inutilidade de sua própria criação. Por isso não devemos falar de "controle", mas de perspectivas reais.
    Victor.

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  26. Victor, começo a compreender agora um pouco mais o teu posicionamento e devo concordar com alguns aspectos apontados por você, sobretudo quando se refere ao estado egóico do artista que o impede de ver a sociedade numa perspectiva mais ampliada e não apenas na perspectiva do seu fazer e da sua sobrevivência.
    E se isso ainda não aparece na reivindicação da dança, ou aparece de forma inconsistente, é porque ainda não chegamos no cerne da nossa própria questão.
    Penso também que "pensar a dança...além dos editais" nos levará com o tempo a pensar e repensar valores pessoais e coletivos.
    Ao tentarmos resolver questões centrais da dança, não estamos de forma alguma achando que tudo estará resolvido. Longe disso.
    Trata-se apenas de um ponto de partida. Àquilo em que nos reconhecemos de imediato, àquilo que toca diretamente em nosso estômago ou fígado. Espero mesmo que consigamos avançar nessa discussão e que ultrapassemos o estágio embrionário em que ainda nos encontramos.
    As condições em que a dança se encontra na cidade de São Paulo, no estado, ou no país refletem ainda a proximidade com a ditadura, pois repetimos sem perceber os mesmos cânones deste sistema.
    Sistema que particularmente ironizo como: 'salve-se quem puder', ou 'primeiro eu, depois o samba', ou 'vai na frente, que se der certo eu me beneficio depois', ou 'ninguém é bom, só eu', ou pior ainda 'puxa...sabe que te admiro muito pela tua militância! Apóio você, viu ?' (frases que ouço constantemente qdo cobro dos meus parceiros uma atitude mais efetiva politicamente).
    Bem, nem preciso avançar mais nesse assunto.
    Abçs
    Solange

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  27. Sandro, você também não fica para tráz da minha confusão. Você diz que reivindicando verba pública vocês estariam em busca de um modo “público” de instaurar as relações entre artista e sociedade. É isso? Através do Estado vocês conseguiriam estabelecer “relação pública” com a comunidade, e por isso a Arte deixaria de ser mercadoria? De outro jeito a relação seria privada, é isso? Não consigo entender o que te faz pensar que o Estado, ou melhor, pelo Estado atual o “modo de produção artística”(?) deixaria de corresponder com as exigências desta sociedade - desigual, individualista e baseada na exploração do trabalho. Mesmo que a comunidade saiba que a arte é de fomento estatal, por que a sociedade não exigiria da arte aquilo que ela exige do shampoo, da telefonia, do transporte, dos produtos artísticos de empresas privadas? Melhor ainda, se de fato a história da nossa sociedade atual (pois essa generalização para todas as sociedades humanas foi revista pelo próprio Marx) se dá pela luta de classe, por que o Estado ou a verba pública não estariam também emporcalhados com tal dominação?

    Por isso mesmo temos que inserir a arte na sociedade que ela pertence. Ainda que a Vanessa coloque uma ocupação alternativa para o artista e sua arte como uma possibilitadora de se “almejar um outro jeito de sentir o mundo e de fazer com que outro sinta” (e isto não é pouco nem irrelevante), esta atitude condiz, contudo, com um papel atribuido pessoalmente à arte. A crença que, ao sugerir artística e implicitamente este objetivo, o outro pode se transformar e desejará realmente uma mudança está ligada ao seu modo de ver a sociedade atual (intelecto X sensível, sistema x indivíduo) e o papel da arte à margem. Penso que para uma arte ser uma alternativa ela deve participar das alternativas concretas da sociedade, ou seja, para representar uma alternativa na sociedade atual ela deve estar inserida num movimento social concreto e alternativo, e este só pode vir da própria classe explorada.

    Solange, acredito que não existem “questões centrais da dança” que não estejam profundamente relacionadas com as questões de toda a sociedade, principalmente por se tratar de arte. Dizem por aí que não existe ideologia com estômago vazio. Mas não acho que seja o caso deste grupo.
    Abraços,
    Victor

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